As estratégias para driblar o esquecimento variam entre as pessoas, sendo as mais comuns: o barbante
amarrado no dedo, o anel invertido na mão ou um objeto fora de seu lugar
habitual, tudo é válido para “lembrar-se
de lembrar”. A expressão ostenta uma aparente contradição, pois se me
lembrar do que não devia esquecer, então não precisaria lembrar...
A
lembrança evoca os objetos, sensações, emoções, sentidos e tudo mais que foi
guardado nas extensas áreas da memória. E, inclusive a figura do esquecimento, que
tudo apaga quando se faz realmente presente.
Nos “vastos campos da memória”,
segundo Santo Agostinho, trazemos à existência não mais as coisas e pessoas que se
foram, mas as suas imagens e modelos... Nos vastos campos da memória guardamos a
música que nos leva ao passado, também guardamos o som, o cheiro, o gosto e a
frase. Na memória matemática guardamos os números e contabilizamos o que se foi, em
contraste ao que se acrescentou, atualizando as informações, e , depois tornamos a
guardá-las, para serem evocadas tantas e quantas vezes forem necessárias.
Nos
vastos campos da memória guardamos também nosso relacionamento com Deus, nossas experiências
com o Criador desde que fomos gerados, tais como: os livramentos, o consolo na angústia, o
encorajamento, as palavras de vida eterna e o momento da salvação.
Quanto
ao esquecimento, transitando do mocinho ao vilão, este é sem dúvida o remédio para as dores e para as difíceis perdas, pois ainda que possamos recordar tais acontecimentos, estas lembranças não
fazem com que sintamos a dor real experimentada no passado. Todavia, o esquecimento apaga também o que de
melhor Deus registrou em nossa história, enfraquecendo a fé e debilitando a
esperança.
Então, por
que Deus criaria os palácios da memória, com suas câmaras recônditas e
misteriosas que vão muito além da nossa compreensão, se não para lembrarmos de
seus feitos e mantermos viva a lembrança do Deus vivo às futuras gerações?! O salmista registra, na poesia hebraica, esta conclusão: “Eu
me lembrarei das obras do SENHOR; certamente que eu me lembrarei das tuas
maravilhas da antiguidade. Meditarei também em todas as tuas obras, e falarei
dos teus feitos.” Salmo
77:11e12
O
ato de lembrar é uma recorrência bíblica, Deus insiste em que seu povo recorde
de seus feitos, do seu poder, do seu braço forte, da sua bondade e sua misericórdia,
assim como Ele mesmo disse a Moisés: “e
assim serei lembrado de geração em geração” Êxodo 3:15b.
Portanto, para não nos esquecermos é
preciso exercitar a memória evocando os feitos do Senhor, contando aos nossos filhos e netos, e ainda persistirmos na
leitura da sua palavra, que registrou todos os seu feitos, e assim não somente nos lembraremos do que Deus fez em nossas próprias vidas, mas também nos recordaremos de seus feitos a todos os homens ao longo da história.