50 - A cruz, o cajado e a coroa

           
      A impressionante conexão existente entre os salmos 22, 23 e 24 que permite apreciá-los, tanto como inspirações individuais quanto obra única, foi identificada desde a antiguidade pelos sábios rabinos, que a partir de então, denominaram esta trilogia das Escrituras Sagradas como: “A cruz, o cajado e a coroa.”

A Cruz
         O Salmo 22 é um dos mais citados no Novo Testamento e fala da obra salvadora de Cristo, descrevendo o sofrimento e a vitória do Messias prometido simbolizados pela cruz. Foi na cruz que Jesus reconciliou o mundo com Deus, conforme ensina o apostolo Paulo aos cristãos da cidade grega de Corinto: “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo...” 2 Coríntios 5:19a.

O Cajado
         No Salmo 23 é descrito, em curtos versos, o resumo de uma vida que é conduzida por Cristo. O cajado é o instrumento pelo qual o pastor toca suavemente a pata de sua ovelha, quando esta se desvia do caminho, trazendo-a de volta para o rumo certo. O cajado simboliza uma vida, iniciada na cruz, e conduzida pela graça de Jesus a todo o momento, como diz o próprio salmista: “Ainda que eu ande pelo vale da sobra da morte não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo, a sua vara e teu cajado me consolam.” Salmo 23:4.

A Coroa
          Já no Salmo 24, a vinda do Senhor da Glória é cantada em hino de louvor. Ele é o Deus eterno, o Rei dos reis que reinará para sempre. Jesus veio nos salvar, passou pela cruz, viveu sob a direção do Pai e recebeu a coroa, a vitória sobre o pecado e a morte. As escrituras revelam que os seguidores de Jesus com Ele reinarão eternamente. Destaque do apóstolo Paulo aos cristãos do primeiro século que viviam em Roma: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.” Romanos 8:16,17. Jesus usa uma coroa, e seus discípulos também usarão uma, pois foi dado a eles participarem da herança divina na condição de filhos amados.

            É pela “cruz” que se entra na vida eterna desde agora, pelo “cajado” que se vive neste mundo guiado pelo bom Pastor até alcançar a “coroa”, porção da herança destinada aos que com Cristo reinarão por toda eternidade. A trilogia destes salmos descreve a trajetória de todo ser humano do ponto de vista de Deus e do seu propósito redentor. “Então já não haverá noite, nem precisarão de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos.” Apocalipse 22:5


49 - O Shemá

O “Shemá” (שמע) é a forma hebraica do termo “ouve”, que é a primeira palavra, do quarto versículo, do sexto capítulo, do livro sagrado de Deuteronômio, que diz assim: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR” Dt 6:4. Segundo a tradição judaica, o “shemá” consistia apenas no versículo 4, porém mais tarde, foi ampliado para incluir os versículos 5 a 9 do mesmo capítulo, os versículos 13 a 21 do capítulo 11 e também os versos 37 a 41 do capítulo 15 do livro de Números, compondo o seguinte:

Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje te ordeno, de amar o SENHOR, teu Deus, e de o servir de todo o teu coração e de toda a tua alma, então, darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu cereal, e o teu mosto, e o teu azeite. E darei erva no teu campo aos teus gados, e comerás e fartar-te-ás. Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles; e a ira do SENHOR se acenda contra vós, e feche ele os céus, e não haja água, e a terra não dê a sua novidade, e cedo pereçais da boa terra que o SENHOR vos dá. Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos, e ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te; e escreve-as nos umbrais de tua casa e nas tuas portas, para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o SENHOR jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra.
E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que nas bordas das suas vestes façam franjas, pelas suas gerações; e nas franjas das bordas porão um cordão azul. E nas franjas vos estará, para que o vejais, e vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR, e os façais; e não seguireis após o vosso coração, nem após os vossos olhos, após os quais andais adulterando. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os façais, e santos sejais a vosso Deus. Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos ser por Deus; eu sou o SENHOR, vosso Deus.

O compromisso de amor incondicional a Deus, abrangendo a totalidade de nosso ser, descrito no “shemá hebraico, foi com certeza memorizado e repetido pelo Senhor Jesus, na infância, em suas orações diárias e reafirmado em seus ensinamentos registrados nos evangelhos de Lucas (10:27); Mateus 22:37 e em Marcos: “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.” Mc 12:29,30

     A declaração nos recorda que a partir do momento em que tomamos consciência da existência de Deus, somos levados a reconhecer que não dá para viver de qualquer jeito, guiados pelas nossas vistas ou por nossa própria vontade, porque não existimos para nós mesmos.

     Portanto, o texto ampliado do “shemá” lembra a todo aquele que, pela fé no Senhor Jesus, recebeu as “roupas novas” da salvação, não poderá viver da forma de seu antigo proceder “Nós nos alegraremos e cantaremos um hino de louvor por causa daquilo que o SENHOR, nosso Deus, fez. Ele nos vestiu com a roupa da salvação e com a capa da vitória. Somos como um noivo que põe um turbante de festa na cabeça, como uma noiva enfeitada com jóias” Isaías 61:10 (BLH)

48 - A maior das mentiras


     Desde a mais tenra idade já tomamos contato com mentiras que falam para gente. As formas mais comuns são as acusações que acrescentam rótulos, que podem ecoar por toda uma vida, tais como: “Você é burro, feio; incompetente, não faz nada certo” ou aquelas afirmações falsas com intuito de sabotar sonhos e desestimular projetos pessoais, como: “Isso não é pra você; você não consegue; você só será feliz se...”
        

     Por inveja, na maioria, e por maldade, todas as vezes, estas afirmações falsas mexem com o interior das pessoas, prejudicando e, em alguns casos, até destruindo a auto-imagem. A culpa de quem mente é maior, mas não isenta de responsabilidade quem acredita. Há pessoas que passam uma vida inteira acreditando em mentiras.

        A maior mentira, porém, ocorreu na gênesis da humanidade e foi contada por Satanás quando sugeriu ao primeiro casal, em síntese, que Deus não era confiável e, por isso, eles deveriam se virar sozinhos, assumindo uma vida sem Deus ou fora d’Ele. Todavia, as Escrituras Sagradas afirmam que: “Quando o Diabo mente, está apenas fazendo o que é o seu costume, pois é mentiroso e é o pai de todas as mentiras.” João 8:44b (BLH).

       Esta mentira ainda é sussurrada em nossos ouvidos até os dias de hoje, principalmente quando as coisas não vão bem. O inimigo é desleal e ataca quando estamos prostrados pelas adversidades da vida, e ainda insiste em afirmar que “não há mais jeito para aquela pessoa que errou de novo”, ou que “o fracasso ocorrerá novamente, não importando o número de tentativas”. Ele continuará mentindo, porém cabe a cada um acreditar ou buscar a verdade em Jesus, como Ele mesmo deixou registrado nas escrituras: “Então Jesus disse para os que creram nele: — Se vocês continuarem a obedecer aos meus ensinamentos, serão, de fato, meus discípulos, e conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.” João 8:31,32

      Deus é bom e confiável, e jamais frustrou as esperanças de quem n’Ele confia. Não se deixe enganar, você tem muito valor porque é um projeto especial de Deus, por quem Ele já provou seu amor (Romanos 5:8). Portanto, receba o amor que Ele tem para te dar, confie em Jesus e não dê ouvidos às mentiras, vivendo em paz como descreve o salmista na poesia hebraica: “Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira.” Salmo 40:4

47 - A Realidade Extraordinária


Recentemente em seu último livro, um proeminente físico teórico da atualidade descartou a existência de Deus como criador. Isto me entristeceu, porém recordei-me do relato histórico quando o famoso astrônomo e matemático francês do século XVII, Pierre Simom Laplace teceu comentário semelhante diante do imperador, ao entregar sua obra sobre a mecânica do universo a Napoleão. Tentar explicar a existência do Criador tão somente com os recursos materiais existentes e rejeitá-Lo por não caber em nossa limitada mente humana não é resultado da atualização do conhecimento, mas sim da falta de relacionamento com Deus.

Por outro lado, encontramos nas escrituras sagradas a história de um Deus que busca e encontra o ser humano, que toma todas as iniciativas para se relacionar com cada pessoa, proporcionando experiências extraordinárias e sobrenaturais percebidas por aqueles que foram alcançados pela sua presença, graça e poder. O Criador não se revela somente no plano físico e material, e assim faz para nos conduzir a entendê-Lo como uma realidade pessoal invisível, pois Deus é a realidade mais extraordinária do universo.

Um personagem bíblico que se destacou pela proximidade com Deus foi Moisés, que desde seus primeiros contatos com o Criador não se ocupou em medi-Lo com a mesma régua com que se avaliam as capacidades e limitações humanas, mas permitiu que Deus o conduzisse em direção à toda revelação de Seu extraordinário caráter. Podemos dizer que Moísés “viu” o Deus invisível pelos olhos da experiência e da fé, alcançando um relacionamento real e verdadeiro como descrito neste impressionante relato: “E falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo; ...” Êxodo 3:11a

No evangelho segundo João está escrito: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito (Jesus), que está no seio do Pai, este o fez conhecer.” João 1:18. De fato foi somente através de Jesus Cristo, que Deus revelou a sua plenitude aos homens. Foi por meio do seu Filho que viemos a conhecer Deus. No mesmo evangelho foi registrado uma conversa do Mestre com seus discípulos a respeito do mesmo tema: “Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14:8,9
O convite dos evangelhos é para encontramos a Deus por meio do seu filho Jesus, e vivermos a partir desta nova perspectiva de vida. O mesmo que a muito já fora anunciado pela boca do profeta: “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas, que não sabes.” Jeremias 33:3. Em Jesus estão guardados os tesouros do Criador, conforme afirma o apóstolo Paulo aos cristãos do primeiro século: “... e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus-Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” Colossenses 2:2,3

46 - Lembrar-se de lembrar!

As estratégias para driblar o esquecimento variam entre as pessoas, sendo as mais comuns: o barbante amarrado no dedo, o anel invertido na mão ou um objeto fora de seu lugar habitual, tudo é válido para “lembrar-se de lembrar”. A expressão ostenta uma aparente contradição, pois se me lembrar do que não devia esquecer, então não precisaria lembrar...

A lembrança evoca os objetos, sensações, emoções, sentidos e tudo mais que foi guardado nas extensas áreas da memória. E, inclusive a figura do esquecimento, que tudo apaga quando se faz realmente presente.

Nos “vastos campos da memória”, segundo Santo Agostinho, trazemos à existência não mais as coisas e pessoas que se foram, mas as suas imagens e modelos... Nos vastos campos da memória guardamos a música que nos leva ao passado, também guardamos o som, o cheiro, o gosto e a frase. Na memória matemática guardamos os números e contabilizamos o que se foi, em contraste ao que se acrescentou, atualizando as informações, e , depois tornamos a guardá-las, para serem evocadas tantas e quantas vezes forem necessárias.

Nos vastos campos da memória guardamos também nosso relacionamento com Deus, nossas experiências com o Criador desde que fomos gerados, tais como: os livramentos, o consolo na angústia, o encorajamento, as palavras de vida eterna e o momento da salvação.

Quanto ao esquecimento, transitando do mocinho ao vilão, este é sem dúvida o remédio para as dores e para as difíceis perdas, pois ainda que possamos recordar tais acontecimentos, estas lembranças não fazem com que sintamos a dor real experimentada no passado. Todavia, o esquecimento apaga também o que de melhor Deus registrou em nossa história, enfraquecendo a fé e debilitando a esperança.

Então, por que Deus criaria os palácios da memória, com suas câmaras recônditas e misteriosas que vão muito além da nossa compreensão, se não para lembrarmos de seus feitos e mantermos viva a lembrança do Deus vivo às futuras gerações?! O salmista registra, na poesia hebraica, esta conclusão: “Eu me lembrarei das obras do SENHOR; certamente que eu me lembrarei das tuas maravilhas da antiguidade. Meditarei também em todas as tuas obras, e falarei dos teus feitos.” Salmo 77:11e12


O ato de lembrar é uma recorrência bíblica, Deus insiste em que seu povo recorde de seus feitos, do seu poder, do seu braço forte, da sua bondade e sua misericórdia, assim como Ele mesmo disse a Moisés: “e assim serei lembrado de geração em geração” Êxodo 3:15b.

Portanto, para não nos esquecermos é preciso exercitar a memória evocando os feitos do Senhor, contando aos nossos filhos e netos, e ainda persistirmos na leitura da sua palavra, que registrou todos os seu feitos, e assim não somente nos lembraremos do que Deus fez em nossas próprias vidas, mas também nos recordaremos de seus feitos a todos os homens ao longo da história.

45 - O Autor da vida


Já imaginou uma Cinderela má, fútil, egoísta, desagradável, suja, rude e preguiçosa? Certamente esta não seria a personagem idealizada pelo autor, mas sim uma versão distorcida da mesma personalidade descrita pelo escritor francês Charles Parrault, quando em 1697 criou a sua versão para o antigo conto italiano da Gata Borralheira.

O mesmo ocorre quando nossas atitudes não correspondem aos desígnios de Deus, pois, como o inventor da personalidade, Ele planejou cuidadosamente aquilo que deveríamos ser. Assim como o autor de um romance idealiza seus personagens, Deus, o supremo autor da vida, delineou a nossa individualidade, conforme a revelação memorável registrada na poesia hebraica: “Tu, Senhor, criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.” Salmo 139:13